O que foi, não sei ...

Mais de dez anos a tentar libertar-me da obsessão pelas adições para, em pouco menos de um ano, essa obsessão ser agora apenas uma miragem.

Lembranças? Muitas! Vontades? Nenhumas!

Como foi possível isto acontecer comigo? Sinceramente, ainda estou por descobrir. Há quem lhe chame “milagre”, há quem lhe chame “entrega”, há ainda quem diga que foi “aceitação”. Há também aqueles que dizem que foi “a mão de Deus”. Continuo sem saber o que terá sido, mas uma coisa eu sei: só por hoje, essa obsessão ainda não apareceu. Amanhã, não sei…

Aquilo que posso partilhar com todos os companheiros é que só após admitir por completo a minha derrota perante o álcool, ter entregue a minha vontade e a minha vida a algo ou a alguém, é que a minha obsessão pela bebida começou a afastar-se de mim e a minha vida começou a fazer algum sentido.

Fui aprendendo que quase ninguém percorre este caminho sinuoso da mesma maneira. Talvez ninguém o faça de forma igual, mas percebi que estes caminhos funcionam para muitos companheiros.

Só depois de anos e anos dominados pelo meu egocentrismo, egoísmo e teimosia - e, mais uma vez, sem saber porquê - é que o “milagre” da mente aberta e boa vontade veio ao meu encontro. Talvez esta seja a base principal do início da minha recuperação e do afastamento da obsessão pelo álcool: a boa vontade de sair da minha zona de conforto para ir a uma reunião e a mente aberta para ouvir as partilhas e sugestões de outros companheiros têm sido uma ajuda formidável.

Aqui e ali, vou tirando para mim diversas sugestões para continuar neste caminho cheio de barreiras, mas só assim tenho conseguido, diariamente, dormir com muita serenidade e acordar com a energia suficiente para continuar a avançar no sentido da minha recuperação.