Anonimato
Porquê e para quê?
Qual é o propósito do anonimato em Alcoólicos Anónimos? Porque é tantas vezes referido como a maior e única proteção que a Comunidade tem para assegurar sua contínua existência e crescimento? Se considerarmos a história de AA desde o seu início em 1935 até aos nossos dias, torna-se claro que o anonimato serve duas funções distintas, se bem que igualmente vitais:
a nível pessoal, o anonimato assegura a proteção de todos os membros de serem identificados como alcoólicos, uma salvaguarda muitas vezes de importância especial para os recém-chegados; a nível da imprensa, rádio, televisão, filmes e outros meios tecnológicos como a Internet, o anonimato reforça a igualdade de todos os membros da Comunidade, refreando aqueles que, de outra forma, poderiam explorar a sua filiação em AA para alcançarem reconhecimento, poder ou benefício pessoal.
Anonimato a nível público
Depois dos seus primeiros poucos anos de êxito, a Comunidade atraiu a atenção muito favorável da imprensa. Artigos a elogiar AA apareceram em revistas e jornais em todo país. Com cada novo artigo aumentava o número de membros de AA. Nessa altura todos ainda receavam as consequências da divulgação pública e por isso a primeira cobertura feita pela imprensa preservou o anonimato dos membros por uma questão de segurança.
À medida que a consciência pública acerca do alcoolismo aumentava, o estigma diminuía e, em breve, alguns membros começaram a dar conhecimento público da sua filiação em AA nos meios de comunicação social. Um dos primeiros a fazê-lo foi um famoso jogador de bola cuja reabilitação foi de tal modo espetacular que os jornais dedicaram uma especial atenção à sua triunfante luta contra o álcool. Acreditando que podia ajudar AA ao revelar sua qualidade de membro, falava disso abertamente. Até os fundadores de AA aprovaram as suas ações simplesmente porque ainda não tinham tido experiência do preço de uma tal publicidade.
Então outros membros decidiram quebrar o seu anonimato a nível da comunicação social, alguns motivados por boa vontade, outros por interesse pessoal. Alguns membros conceberam estratagemas para associar sua filiação em AA com todo o género de atividades empresariais: seguros, vendas, lugares conhecidos como “quintas de desintoxicação” e até uma revista de temperança, só para referir algumas.
Não tardou muito para que os serviços centrais se apercebessem que os que quebravam o anonimato numa atitude de excesso de zelo e de autopromoção poderiam pôr rapidamente em perigo a reputação da Comunidade tão dificilmente conquistada. E viram que se uma pessoa fosse exceção, outras exceções seguir-se-iam inevitavelmente. Para assegurar a unidade, a eficácia e o bem-estar de AA, o anonimato tinha de se aplicar a todos. Era a proteção de tudo o que AA significava.
Mais recentemente a chegada de novas formas de comunicação eletrónica, como as redes sociais, oferece meios recentes para levar a mensagem de AA ao público. As comunicações modernas fluem de formas muito tecnológicas, com um âmbito relativamente aberto e que evoluem rapidamente. A proteção do anonimato é uma grande preocupação dos membros de AA que acedem à Internet em números cada vez maiores.
Ao sublinhar a igualdade de todos os membros de AA e a unidade no compromisso comum da sua recuperação do alcoolismo, o anonimato atua como o alicerce espiritual da Comunidade. Em 1946, Bill W., o nosso cofundador, escreveu: ”O termo ‘anónimo’ tem para nós um imenso significado espiritual. De modo subtil mas enfático, lembra-nos que temos sempre de colocar os princípios acima das personalidades; que renunciámos à glorificação pessoal em público; que o nosso movimento não só proclama, como também pratica uma verdadeira humildade”.