EM AA SINTO-ME PROTEGIDO E CONFORTÁVEL

Sou um alcoólico em recuperação com 73 anos. Filho de pais agricultores, o meu pai foi feitor de uma herdade no Alentejo onde, com a presença da minha mãe, me criou a mim e aos meus quatro irmãos. Eram pessoas trabalhadoras, sérias, honradas e humildes, valores que transmitiram a todos nós. Tínhamos uma vida de trabalho árduo mas vivíamos felizes e alegres, até que em 1962 o meu pai faleceu de doença prolongada. Foi um abanão que abalou, de uma forma brutal, a nossa estrutura a todos os níveis, tinha eu 19 anos. Todos estávamos profundamente tristes.

Aos 21 anos, ingressei no serviço militar obrigatório onde me especializei em telecomunicações militares. Fazia as refeições em restaurantes e tascas onde tive o meu primeiro contacto com o álcool, bebendo socialmente. Após a minha passagem à disponibilidade empreguei-me em Lisboa. Conheci muitos amigos de copo e aumentei o meu consumo embora sem mal maior. Conheci a minha mulher e casámos. Após o meu casamento, as nossas famílias juntavam-se com frequência e aí começou o consumo excessivo que me levou a ficar dependente do álcool.

Em 1983 nasceu o nosso filho. Pedimos um empréstimo ao banco e comprámos casa própria. Três anos depois, a empresa onde estava empregado entrou em situação económica difícil e deixou de pagar salários. Com um filho para criar e a casa para pagar, entrei em pânico e comecei a beber sem controlo. Perdi a noção de tudo o que me rodeava e, com a ajuda da minha mulher, fui internado numa unidade de tratamento para alcoólicos onde estive quatro semanas, em Abril de 1988. Fiz reuniões pós-alta e foi-me recomendada a integração em AA, o que não fiz por ter vergonha de ser alcoólico. Estive quatro anos e meio sem beber e após este interregno, voltei a beber moderadamente e a fazer a minha vida normalmente até entrar na reforma.

Já reformado e com muito tempo livre começou a minha verdadeira desgraça. Bebedeiras atrás de bebedeiras, tornei-me agressivo e desonesto. Comprava álcool às escondidas e bebia em casa, noite e dia a beber e a chorar ao mesmo tempo. Mais uma vez, com a ajuda da minha mulher e do meu filho, fui internado e tratado em 2015. Comecei a fazer as reuniões pós-alta e fui alertado para a importância de frequentar reuniões de AA. Aceitei imediatamente. Dirigi-me à sala de reuniões de AA da área da minha residência, onde fui recebido pelo RSG do grupo e pedi-lhe ajuda. Depois de me ouvir disse-me que estava no lugar certo e convidou-me a assistir à reunião poucos minutos depois. Fui muito bem recebido por todos os companheiros e foi-me dito que eu era a pessoa mais importante naquela sala. Não compreendi, mas mais tarde vim a compreender. Desde então, tenho ido a todas as reuniões, ouvindo as partilhas dos companheiros. Sugeriram-me ler e trabalhar os Doze Passos e Doze Tradições, que comecei logo a praticar. Comecei a acreditar no programa e a aceitá-lo.

Hoje sinto que algo se modificou em mim. Sinto-me mais sereno, humilde, honesto e com mais aceitação. Estou profundamente grato ao meu Poder Superior e a todos os companheiros pela ajuda na minha recuperação. Em sobriedade, na nossa comunidade de AA, eu sinto muita paz, protecção e conforto. A todos o meu bem-haja.

Rogério C.

Área 6