Recordando minha Mãe

Foi com grande mágoa que a minha mãe me acolheu em sua casa pelo facto de ter que sair da minha, deixando a mulher e filha entregues a si mesmas, por não conseguir dar-lhes uma vida estável devido ao meu consumo excessivo de álcool e a não saber como parar.

Recordo-me que o meu pai dizia muitas vezes: “quem sair de casa, é para fazer uma vida decente e séria e não para entrar e sair todas as vezes que lhe apetece”. Mesmo sabendo que não estava a respeitar a vontade do marido, a minha querida mãe demonstrou-me que uma Mãe está lá sempre nas piores fases da vida dos seus filhos.

Repartimos o mesmo espaço quatro meses, que foi o tempo que a minha mulher demorou a confiar de novo em mim. Se não tivesse conhecido Alcoólicos Anónimos, tenho a certeza que estando só abstinente do álcool, sem ter o mínimo conhecimento de mim, não aceitar o meu alcoolismo e muito menos mudar os meus hábitos e comportamentos, teria tirado alguns anos de vida à minha pobre mãe, que foi sempre o que eu fiz melhor: roubar o sossego de quem gostava de mim.

Durante esse tempo, recordo-me das nossas conversas sobre as minhas reuniões de AA: « filho, se nessas reuniões te ajudam a não beber, faz tudo o que lá aprenderes ». Também me perguntava quanto é que pagava e eu respondia-lhe que não pagava nada, apenas colocava, se quisesse, algumas moedas num saco que passavam ao fim das reuniões, aconselhando-me minha mãe a dar um euro, que era o que ela dava na missa. Falei-lhe da Oração da Serenidade e dizia-me que rezar nunca fez mal a ninguém e que era através da sua fé em Deus que se mantinha viva.

Faz um ano que nos deixou e uma das últimas conversas que teve comigo foi dizer-me que a maior alegria que lhe dei foi ter deixado de beber e saber que finalmente tinha encontrado um rumo para a minha vida, permitindo-me vivê-la de cabeça levantada. Tudo isto só foi e é possível porque acreditei e acredito no modo de vida que Alcoólicos Anónimos oferece a quem quer parar de beber.

Não posso deixar de referir que tenho uma foto de nós os dois, em A4, tirada um mês antes da sua morte, colada na porta do cacifo no meu trabalho e, por vezes, quando dou um beijo naquele rosto profundamente triste, parece que me sorri.

Por isso hoje digo, por mim, pela família, pelo recém-chegado: só por hoje não quero beber o primeiro copo.

Augusto

Área 7